Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Ministério Público, manifestaram apoio à comunidade indígena Cinta Larga. Durante reunião promovida pelo Ministério Público Federal (MPF) foram feitas várias manifestações de compromissos para minimizar problemas nas aldeias.
O governador Confúcio Moura esteve presente à reunião juntamente com parte de seu secretariado. Ele manifestou que a Secretaria de Meio Ambiente (Sedam) pode colaborar com a comunidade indígena fazendo um inventário do crédito de carbono em suas florestas, a fim de comercialização futura deste crédito em benefício da comunidade. Confúcio citou a experiência bem sucedida do povo Suruí, ocorrida recentemente.
Na área de Educação, poderá ser ampliado o número de escolas nas aldeias de modo a contemplar os cinta larga no ano de 2014. Quanto à uma reivindicação frequente dos indígenas de falta de qualificação profissional, Confúcio informou que a assistência técnica da Emater pode promover as capacitações dentro da vocação da comunidade, como, por exemplo, criação de peixes. Também quanto à qualificação profissional, o presidente da Assembleia Legislativa, Hermínio Coelho, colocou à disposição os cursos da Escola do Legislativo.
Em relação aos problemas de Saúde e de estradas, o governador disse que estas áreas também seriam acionadas para contemplar os indígenas em seus planos de trabalho, o que os cinta larga aguardam.
Massacre de garimpeiros
No dia 8 de março de 2004, a Polícia Federal prendeu 15 pessoas envolvidas na extração ilegal de diamantes na Terra Indígena Roosevelt. Na ocasião, foram presos o delegado da Polícia Civil em Espigão do Oeste, um servidor do Incra, “empresários” e Marcos Glikes, considerado o maior comprador de pedras da TI. Os agentes apreenderam R$ 100 mil em dinheiro, carros e documentos.
No dia seguinte, a Polícia Federal iniciou uma greve, “por tempo indeterminado”, precarizando a fiscalização da TI e abrindo a guarda contra os contrabandistas. O dia sete de abril é a data provável do assassinato dos 29 garimpeiros dentro da TI Roosevelt. As mortes teriam sido motivadas porque os garimpeiros não estariam obedecendo ao acordo feito com os índios para a liberação do garimpo. Desde então, o povo cinta larga passou a ser tratado como bandido, mesmo as crianças, os jovens e os idosos.
Massacre do paralelo 11
Os cinta larga se autodenominam Panderj, que significa “nós somos gente ou pessoas humanas”, e foram duramente castigados pelos colonizadores. Os primeiros contatos com os não índios se deram na década de 1950. Na década de 1960, ocorreu o Massacre do Paralelo 11, quando, calcula-se, morreram 3.500 índios envenenados com arsênico. A matança foi patrocinada por interessados nas terras e riquezas dos cinta larga, que usaram de requintes de crueldade, com roubos, estupros, tortura e grilagem de terra. Na ocasião, os índios foram presenteados com alimentos envenenados e brinquedos contaminados com vírus de gripe, sarampo e varíola. Também há o registro de ataques a reserva indígena com metralhadoras, pistolas e outras armas, que deixaram os índios sem defesa. (Ana Aranda)
Grave situação
O procurador da República Reginaldo Trindade, organizador do evento, disse que o principal problema dos índios cinta larga é a invisibilidade. Segundo ele, a indiferença com que o governo federal tem tratado a grave situação daquele povo é o que dificulta as soluções.
Marcelo Cinta Larga, indígena que falou em nome de seu povo, afirmou que os índios aguardam por ajuda. Ele ressaltou que se tem uma visão errada do povo Cinta Larga por causa do garimpo de diamantes, mas que a realidade é que a comunidade padece por falta de estrutura e perspectivas de sobrevivência.
O procurador Guilherme Rocha Gopfert, da unidade do MPF em Vilhena, finalizou a reunião acrescentando que a questão indígena tem que ser vista com prioridade, pois a falta de acesso a direitos elementares põe em risco a própria existência destas comunidades.
Audiência no senado
A pedido do senador Acir Gurgacz, uma audiência pública será realizada hoje, às 14 horas (horário de Brasília), no plenário 13 da Ala Alexandre Costa, no Senado Federal. A expectativa do senador é que os problemas dos índios cinta larga cheguem ao conhecimento do governo federal, a quem compete grande parte das respostas que podem amenizar a situação da comunidade. O seminário terá como objetivo discutir a situação dos povos indígenas Cinta Larga de Rondônia e Mato Grosso, e avaliar a implantação de projetos direcionados àquelas comunidades, especialmente os projetos destinados a proporcionar alternativas econômicas e sociais.
Os representantes do poder Judiciário disponibilizaram as instalações de suas instituições para reuniões do Grupo Cinta Larga Amigos em Movimento (Clamor), bem como sugeriram a realização de debates sobre o tema. Estavam presentes o juiz federal Herculano Martins Nacif, o desembargador Edemir Sebastião (do Tribunal de Justiça), o procurador de Justiça Cláudio Wolff Harger (Ministério Público Estadual) e o presidente da OAB, Andrey Cavalcante.
Os representantes de setores organizados da sociedade, previamente inscritos, poderão se manifestar sobre o tema. O seminário terá transmissão ao vivo pela TV e Rádio Senado e os telespectadores e ouvintes poderão participar através do Alô Senado – 0800 61 2211 ou pelo twitter @AloSenado.
Fonte URL: http://diariodaamazonia.com.br/povo-cinta-larga-espera-apoio-do-poder-publico/