Um processo de desenvolvimento que está revolucionando o mundo empresarial e agora tribos indígenas: o coaching. O jornalista, Marinaldo Guedes, ganhou destaque no Congresso Internacional de Coaching de Liderança e Saúde ao falar sobre a aplicação pioneira do coaching em uma tribo indígena. O congresso ocorreu nos dias 12 e 13 de setembro em Boston, nos Estados Unidos.
Aldeia Tururukari-Uka, da etnia Omágua/Kambeba, onde foi realizado o coaching
Aldeia Tururukari-Uka, da etnia Omágua/Kambeba, onde foi realizado o coaching. Foto: Divulgação
O trabalho de Guedes denominado ‘Liderança Indígena: o caso da aldeia Tururukari-Uka/AM’, realizado durante seis meses em 2013, ganhou repercussão nacional quando foi apresentado à Faculdade de Estudos e Pesquisas de São Paulo e em seguida ganhou as páginas da Revista Brasileira Científica de Coaching no início deste ano. Com os resultados obtidos, a Sociedade Brasileira de Coaching submeteu o artigo científico à Harvard Medical School. O trabalho concorreu com centenas de outros e ficou em primeiro lugar para representar o Brasil em Boston.
O que é coaching
O coaching é um processo de desenvolvimento de pessoas e foi muito usado para a alta performance de atletas alemães nos anos 60 e 70. Nos anos 80, ganhou notoriedade entre os executivos americanos e europeus. No Brasil, chegou nos anos 90 e foi estruturado pela Sociedade Brasileira de Coaching. “É um direcionamento das potencialidades da mente humana para atingir resultados. Não imediatos, mas adequados para a pessoa crescer e ser feliz durante o processo”, contextualiza Guedes.
A partir de então, o coaching ganhou espaço na vida de profissionais, atletas, homens de negócios, micro e pequenos empresários e agora também nas lideranças indígenas. A proposta é melhorar a qualidade de vida nas aldeias de todo o País. O trabalho pioneiro recebeu a atenção e ganhou notoriedade de Harvard, a faculdade americana mais respeitada e uma das mais importantes do mundo.
Processo de coaching em uma tribo indígena foi realizado de forma inédita
Processo de coaching em uma tribo indígena foi realizado de forma inédita. Foto: Divulgação
O trabalho de coaching foi aplicado de forma inédita em uma tribo indígena. “Eu já fazia trabalho com alguns grupos indígenas conhecendo a sua cultura. Mas eu gostei muito quando eu conheci esse grupo, há dois anos e meio, e decidi: por que não aplicar nesse grupo o coaching que eu estou apresentando aqui? Se o coaching serve pra qualquer pessoa, então um executivo das grandes empresas americanas é uma pessoa e um indígena lá do interior do Amazonas também é uma pessoa. É uma liderança sim, então decidimos aplicar”, disse Guedes à reportagem do Portal Amazônia.
A aldeia Tururukari-Uka, da etnia Omágua/Kambeba, era desconhecida até mesmo de pessoas de comunidades próximas ao lago do Ubim, localizada na estrada AM-070 que liga Manaus ao município de Manacapuru. A aldeia é pequena e tem aproximadamente 60 indígenas, metade formada por crianças. A partir do treinamento em coaching, a liderança da aldeia passou a ser reconhecida pelo autodesenvolvimento e pela competência do jovem cacique Francisco Uruma, 35.
O líder
Há pouco mais de um ano, Uruma era um inseguro candidato a líder da aldeia. Seu objetivo era ser um líder capaz de mobilizar as pessoas em torno de atividades empreendedoras. Desta forma, Guedes passou a ir à tribo quinzenalmente, e aplicou técnicas, ferramentas e metodologias de coaching, cientificamente validadas, para que o próprio Uruma encontrasse as respostas que procurava.
Francisco Uruma, cacique da tribo
Francisco Uruma, cacique da tribo. Foto: Divulgação
Depois do processo de coaching, o primeiro com liderança indígena no mundo, o cacique passou a ter confiança em todas as etapas de sua liderança. Mais do que isso: a partir deste trabalho, ele tornou-se líder de dez etnias da região amazônica. “O líder teve acesso a dez sessões de coaching e performava. Performar é fazer a coisa acontecer, crescer diante do processo, traçar suas metas e chegar lá. Uma delas era a de que ele não poderia mais ser o líder de uma única tribo, mas sim de uma tribo de grande porte. Depois da sexta sessão ele foi pra Brasília. Lá ele discutiu de uma forma tão intensa que outros indígenas assimilaram ele como liderança. Resultado: hoje ele é líder de dez etnias, com papel assinado e tudo. Ele melhorou os níveis de qualidade da saúde na aldeia e conseguiu uma escola bilíngue com qualidade fantástica dentro da própria tribo. Tudo isso através do coaching”, contou Guedes.
Cultura
A manutenção da cultura tribal é um dos principais desafios dos povos indígenas brasileiros. Quem mora na aldeia Tururukari-Uka tem orgulho da sua condição indígena. E foi exatamente essa condição que chamou a atenção de 22 jornalistas de 10 países que visitaram a aldeia no período da Copa do Mundo de Futebol. Várias reportagens sobre a aldeia passaram a circular o mundo, com destaque para a China e Portugal, além de programas de televisão de Honduras e Inglaterra.
“Hoje a tribo está muito mais sensível sobre sua questão cultural, que é necessária a sua cultura para a sobrevivência. Hoje os indígenas componentes sabem que é necessário estudar mais a língua para manter consolidada a sua cultura. O líder tinha inclusive um pequeno problema de gagueira e reduziu muito. Ele pouco falava porque gaguejava muito. Hoje ele dá palestras para grupos de universidade e é um homem que teve voz e vez no Congresso Nacional para falar 15 minutos sobre habitação. E é o nosso indígena”, orgulha-se Guedes.
Fonte URL: http://www.portalamazonia.com.br/editoria/atualidades/trabalho-de-coaching-em-tribo-indigena-do-amazonas-e-reconhecido-nos-eua/